terça-feira, 1 de outubro de 2013

Plenárias da 5ª CNSI de Pernambuco aprovam propostas atualizadas para o aprimoramento do SasiSUS


Três dias de intensos e produtivos debates e a certeza de que os temas ali discutidos são o que há de mais atual para o aprimoramento da política de saúde indígena. Este é o saldo das plenárias da 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (5ª CNSI), realizadas pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Pernambuco. O evento foi aberto oficialmente na última sexta-feira (27), na cidade de Garanhuns, no agreste Pernambucano, e contou com a participação engajada de 272 delegados, dos quais 136 eram indígenas, representantes das 10 etnias existentes na região. O secretário Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, Antônio Alves, também esteve presente na abertura solene do evento e destacou a importância deste momento para o aprimoramento da assistência prestada aos mais de 48 mil indígenas existentes no estado.

“O Sistema Único de Saúde (SUS) e o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS) devem ser concebidos como irmão siameses, inseparáveis. O aprimoramento do subsistema está condicionado ao aprimoramento do SUS, que também precisa garantir as especificidades da população indígena. O SUS precisa se preparar para receber vocês. Precisa integrar o trabalho dos pajés nas enfermarias, oferecer alimentação nos hospitais condizentes com os hábitos alimentares de vocês, precisa preparar seus profissionais para as especificidades da saúde indígena”, destacou o secretário da Sesai.

Antônio Alves também fez um breve resgate do histórico de lutas e reivindicações presentes em Conferências anteriores e lembrou que um dos principais pleitos da 4ª Conferência Nacional de Saúde Indígena, que era a autonomia gerencial dos distritos sanitários, foi prontamente atendido com a criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). “Priorizamos isso como meta e conseguimos fazer. Temos também avançado na ampliação do orçamento, que mais que dobrou nesses dois últimos anos, mas que ainda é insuficiente diante de tanto o que temos a fazer”.

Ele apontou como prioridades na execução do orçamento os investimentos para recuperação física dos estabelecimentos, a exemplo de reformas e construções de postos de saúde, Polos Base e sistemas de abastecimento de água. Entretanto, também lamentou “que as leis do Estado Burocrático Brasileiro não foram criadas levando em consideração a realidade e as especificidades dos povos indígenas, que vivem em regiões de difícil acesso”, em locais onde a realização de processos licitatórios é complexa e difícil de ser executada por falta de empresas interessadas.

Ao retomar a importância da união entre os povos indígenas, Antônio Alves lamentou a atual conjuntura política do Congresso Nacional, que em nada favorece as lutas e coloca em xeque as conquistas alcançadas pelos povos indígenas nos últimos anos. Ele lembrou, ainda, que as plenárias da Conferência devem ser espaços de ampla discussão, que abarquem não somente aspectos relacionados à recuperação e tratamento de saúde. “É preciso discutir outros temas que estão diretamente associados à saúde, como a questão da segurança alimentar, os temas relacionados ao etnodesenvolvimento, sustentabilidade, e esta conferência tem possibilitado essas discussões em seus eixos temáticos”, disse.

Conscientização
O grau de envolvimento da comunidade indígena de Pernambuco, considerada uma das mais populosas do país, nas plenárias da 5ª CNSI foi apontado pelo coordenador do DSEI, Antônio Fernando, como um avanço na tomada de consciência e participação no controle social na gestão por parte dos indígenas.

“Fiquei muito surpreso com o nível de envolvimento dos delegados nas 13 etapas locais, bem como com as discussões por eles levantadas. O DSEI Pernambuco vai levar para Etapa Nacional propostas bem atualizadas para o aprimoramento da Política de Saúde Indígena. Isso nos deixa bastante feliz, porque sinaliza que o trabalho que estamos executando está sendo bem aceito e tem fomentado a participação cada vez maior da comunidade indígena”, avaliou.

Avanços e desafios
Considerado como uma das principais lideranças indígenas do estado de Pernambuco, o cacique Marcos Xucuru, líder da nação Xucuru de Ororubá e representante dos caciques das 256 aldeias indígenas existentes no estado de Pernambuco, destacou avanços importantes na saúde indígena desde a criação do SasiSUS, em 1999. Ele também elencou desafios e destacou a importância das conferências para participação da população na condução da política de saúde indígena.

“A conferência nos oportuniza um momento de unir todos os povos e executar a consulta de como devem ser desenvolvidas as ações de saúde que almejamos, como preconiza a convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da qual o Brasil é um país signatário. Temos notado avanços importantes desde a saída da saúde da Funai (Fundação Nacional do Índio) para Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e, agora, para SESAI. Mas precisamos avançar, sobretudo, no que diz respeito à preparação de quem trabalha com nós indígenas”, avaliou o cacique.

Principais propostas
Entre as principais propostas debatidas durante os três dias de plenárias, o cacique Marcos Xucuru destacou a contratação e preparação dos recursos humanos para trabalhar com a saúde indígena como um tema bastante recorrente nos debates. “A valorização do profissional que atua na saúde indígena também vem sendo bastante discutida, pois não pensamos ser o concurso público a melhor forma de adquirir profissionais e levaremos isso para ser discutido em Brasília”, afirmou o cacique Xucuru.

Outras propostas aprovadas com 100% de aceitação dos delegados, a exemplo da inclusão dos DSEI’s nas discussões de instâncias como a Comissão Intergestores Tripartite (CIT) e Comissão Intergestores Bipartite (CIB), sinalizam para o nível de atualização das discussões dos delegados em cenário nacional. “Precisamos ser envolvidos nessas instâncias, nas quais são debatidas as articulações de ações entre o SUS e o SasiSUS”, reforçou o coordenador do DSEI.

Estas discussões estão intimamente atreladas a outro tema exaustivamente debatido desde as plenárias locais: a assistência de média e alta complexidade para os indígenas. “Precisamos garantir melhores condições de atendimento sempre que o indígena sair de sua aldeia para ser tratado em hospitais e centros de saúde do Estado e dos municípios”, disse a cacique Luciene Kambiwá.

5ª CNSI
As plenárias da Etapa Distrital do DSEI Pernambuco foram encerradas no domingo (29). Durante os três dias de evento, os 272 delegados debateram propostas em sete eixos temáticos, das quais cinco de cada eixo foram aprovadas para etapa Nacional. No último dia, aconteceu a eleição dos 96 delegados que seguem para Etapa Nacional, que acontece entre os dias 26 e 30 de novembro, em Brasília (DF). Destes, seguindo o critério paritário, 48 são indígenas, 24 são representantes dos trabalhadores e 24 representantes da gestão.

Também participaram dos debates durante a Etapa Distrital da 5ª CNSI do DSEI Pernambuco o diretor de Gestão da Sesai, Fernando Rocha; a chefe de Gabinete da Sesai, Verbena Lúcia Melo; a assessora Especial do Controle Social da Sesai, Bianca Moura; a coordenadora Geral de Edificações e Saneamento da Sesai, Lucimar Alves; a presidenta do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Maria do Socorro; o representante da Instituto Agronômico de Pernambuco (APOIME), Ary Bastos; a superintendente do IBAMA/PE, Ana Paula Pontes; os representantes da  Funai Antônio Tenório e Marcos Siqueira; além de profissionais do DSEI e dos caciques e lideranças indígenas, Neguinho Truká, Yssô Truká, Irmão Zé Atikum, Carmem Pankararu.

Por Felipe Nabuco
Fotos: Luís Oliveira - Sesai/MS





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